sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Mineiro e o dom de causar desconforto em Slater

Duelos entre Kelly Slater e Adriano de Souza já se transformou em um dos maiores clássicos do WT na atualidade

Pode parecer egocentrismo puro de terceiro-mundistas a fim de ser mais do que realmente é.

Desde que Andy Irons se afastou do Tour, a vaga de maior rival de Kelly Slater está vaga.

Fanning ganhou títulos em cima do careca, mas nunca foi Rival, com r maiúsculo.

Parko e Taj nunca tiveram a consistência suficiente para assumir o posto.

Dane Reynolds poderia ser o cara, mas não está nem aí.

Jordy e Owen são carne fresca demais para ocupar uma posição tão importante.

E aí entra Adriano de Souza. O brasileiro Mineirinho.

Não chegou efetivamente a brigar pelo título mundial.

Esteve perto há dois anos, mas não se manteve na briga até o final.

Este ano, assumiu a ponta do ranking, mas logo saiu da briga. Ainda tem chances matemáticas, mas nem ele nem ninguém pafrecem em condições de tirar o 11° título de Slater.

Mas isso pouco importa.

Slater e Mineirinho desenvolveram, ao longo dos anos, um mal-estar psicológico que só Freud pode explicar.

Mineirinho é brasileiro, não atrai os holofotes como os ídolos australianos ou havaianos.

Não é sequer patrocinado pela Quiksilver, Billabong ou Rip Curl.

Mas, na hora de uma bateria contra Mineirinho, o careca sente um visível desconforto.

O que criou essa situação?

Segundo o glorioso blog Datasurfe, Slater venceu os nove primeiros confrontos contra Mineiro.

No 10°, veio o troco do brasileiro. Era quartas-de-final do US Open of Surfing, no mais norte-americano dos picos, Huntington Beach.

De lá para cá, Slater só derrotou Mineirinho duas vezes, em cinco duelos. Ambas no Rip Curl Pro Search de Porto Rico, no ano passado, quando o careca faturou o décimo caneco.

Mineiro ganhou as outras três disputas. As duas desta temporada. Sempre em baterias homem-a-homem. Matar ou morrer.

Lembro do comentário de Slater sobre o brasileiro, na época em que Mineiro despontava como promessa do surfe mundial, após o título mundial Pro-Jr. "Ele surfa bem, mas a base é muito aberta". Ou algo assim.

Com o passar dos anos, vieram até alguns comentários positivos, mas sempre muito blasés.

Foi justamente em Porto Rico, no ano passado, que o clima realmente esquentou. Slater reclamou da marcação feita pelo brasileiro na bateria em que ele acabou faturando o título mundial.

Este ano, de forma até ostensiva e um tanto quanto desnecessária, Mineiro reclamou abertamente com Slater, após ter sofrido uma dura marcação de Taj Burrow e, ainda assim, ter vencido a disputa.

"Quando eu marco é errado, mas o cara pode me marcar que está tudo bem". Ou algo assim.

A vitória por combination de Gabriel Medina sobre Slater, nas quartas-de-final do Rip Curl Pro France, veio acompanhada de alguns comentários não muito elegantes do brasileiro no Twitter.
Mineirinho é isso. Aos 24 anos, ainda grita, faz cena, pede nota. É pura paixão. Mas aprendeu algo que poucos surfistas do mundo conseguiram. Como desestabilizar Slater.

E o melhor de tudo, o golpe de mestre, foi ver Mineirinho se derramando em elogios ao decacampeão mundial, após o título em Portugal, onde ele venceu a final exatamente contra Slater.

"Kelly tem sido o meu herói desde que eu ouvi falar sobre surfe pela primeira vez. Ele é uma lenda viva e estar competindo contra ele, neste nível, é mais que um sonho. Ele me empurrou mais do que qualquer outro surfista e eu devo muito a ele", declarou Mineiro.

Ou algo assim.

Se souber tirar proveito desta rivalidade para o futuro, Mineiro se colocará como um potencial campeão mundial.

Este ano, os únicos que venceram mais de uma etapa no WT foram justamente Slater (3) e Mineiro (2).

Quem tem a manha de vencer Slater está pronto para derrotar qualquer um.

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