O jovem talento brasileiro mostrou ao mundo do surfe que não é mais uma promessa. É um potencial candidato ao posto de número 1 do esporte já na próxima temporada. (Foto: Dan Warbrick)Há cerca de um mês, Gabriel Medina mostrava, na França, que tudo aquilo que os brasileiros e mais alguns gringos que haviam presenciado alguma das performances espetaculares do brasileiro de 17 anos, como o ex-campeão mundial Martin Potter, alardeavam nos últimos meses.
Apareceu alguém capaz de estabelecer uma nova ordem no surfe mundial. O maior candidato a assumir o posto de surfista dominante do Circuito Mundial nos próximos anos.
Mas, "ok", pensaram alguns daqueles gringos que não conseguem conceber que um brasileiro alcance o nível dos maiores do mundo, "isso é sorte de principiante". Afinal, estar entre os melhores de verdade, aqueles que realmente brigam pelo título, sempre foi coisa de norte-americano, australiano, havaiano e, sul-africano.
E não é que ele fez de novo?
O Rip Curl Search de San Francisco foi apenas o quinto evento de Medina no WT. O quarto desde que ele se tornou um integrante da elite. E já são dois títulos.
Mais uma vez surfou com muita consistência. E um detalhe bem importante é que não dependeu exclusivamente na sua maior arma, a variação de aéreos de frontside, para chegar à vitória. Em várias baterias, como a final diante de Joel Parkinson, Medina mostrou ao mundo do surfe que também tem um ataque de backside potente, com batidas e carves acima da média.
Outro detalhe, mais curioso, foi a trajetória de Medina rumo ao título. Uma derrota polêmica para Kelly Slater no no loser round, o troco nas quartas com larga margem, um atropelamento pra cima de Taylor Knox, na semi, e a vitória contra um top australiano.
O mesmo caminho percorrido na França, com a diferença que, na final em Hossegor, a vítima foi Julian Wilson.
Nenhum surfista conseguiu vencer duas etapas de forma tão rápida na história do Circuito Mundial de Surfe. E o garoto, repito, só tem 17 anos.
Não à toa, já começa uma campanha para eleger nosso Golden Boy o rookie of the year, o estreante do ano. Normalmente fica com a honraria o estreante que marcar mais pontos ao longo da temporada. Seria Julian Wilson, mas duas etapas em quatro é certamente um feito maior que ser sétimo ou oitavo do ranking.
(E olha que a gente não tá nem falando no prime, nos dois seis estrelas e no Pro Júnior que ele ganhou também nesta temporada...)
É inevitável não se perguntar do que Medina seria capaz de fazer se estivesse no WT deste ano desde a primeira etapa. Com a fome apresentada nestas quatro etapas pós-corte do meio do ano, será que Slater teria conquistado o 11° caneco, ainda mais de forma antecipada?
O fato é que, assombro à parte, para conquistar o título o brasileiro vai precisar, além da habilidade nas manobras e do espírito matador, categoria para entubar fundo, principalmente em ondas pesadas.
Acredito até que o resultado em Supertubes foi abaixo do que realmente poderia ter sido. A bela performance no round 1 e a derrota para Chris Davidson, que pode ser creditada mais à falta de ondas do que ao surfe que os dois apresentaram na bateria, deixaram essa impressão a quem acompanhou Medina em Portugal.
Mas é inegável que, apesar das boas ondas que rolaram na etapa portuguesa, Supertubes não É Teahupoo ou Pipe.
Ainda não se sabe se Slater lutará no ano quem vem pelo 12° título. A torcida, no entanto, já espera ansiosamente pelo duelo entre o maior campeão de todos os tempos e o jovem talento que, em pouquíssimo tempo deixou de ser uma promessa para virar um oponente real de Slater na disputa pelo posto de número 1 do surfe mundial.
É claro que o feito de Medina é o destaque absoluto da etapa de San Fran.
Mas não foi o único trovão que estrondou da Brazilian Storm.
Alejo Muniz fez um campeonato maravilhoso. Faltou acertar uma manobra a mais, voltar em uma das segundas manobras em que ele acabou caindo na semifinal contra Joel Parkinson.
A temporada de Alejo também é impressionante. Três quintos e duas semi em seu primeiro ano. Uma consistência que o coloca em 10° lugar no ranking.
Miguel Pupo acabou derrotado por Taylor Knox no round 5 e finalizou em 9°. Uma pena que as ondas não apareceram para ele. A diferença é que Knox achou um tubo, o completou com competência e fechou a fatura.
Miguel fez um belo campeonato, surfou o tempo inteiro em alto nível, solto, confiante, e certamente merecia algo mais.
O WT volta daqui a um mês, para a etapa final em Pipe. Mas já no domingo será aberta a janela para a primeira prova da Tríplice Coroa Havaiana, o seis estrelas de Haleiwa que terá pontuação de prime.