
A notícia foi dada através de nota oficial da ASP. Os principais sites especializados a repercutiram e foi possível constatar um certo ar de perplexidade. Mas, honestamente, fica difícil acreditar que a saída do agora ex-CEO da entidade que rege o surfe mundial tenha ocorrido apenas pelo erro na divulgação do 11° título mundial de Kelly Slater.
"Apenas" não diminui o tamanho da burrada. Foi realmente grande. Imaginem a repercussão negativa para um esporte que, no dia em que, enfim, consegue amplo espaço na grande mídia, é obrigado a se retratar, no dia seguinte, por conta de uma falha grotesca em algo tão básico.
Ainda assim, não consigo conceber que Brodie Carr tenha pedido demissão após cinco anos apenas por este erro.
Nesse tempo em que ele esteve à frente da ASP, é inegável que o Circuito Mundial evoluiu positivamente. A premiação das etapas da elite mais que dobrou. Assim como foi criada uma categoria intermediária e bastante valorizada, a das etapas Prime. A cobertura das etapas na internet também é algo elogiável. Nenhum outro esporte oferece um produto da qualidade do Tour e, ainda por cima, de graça.
Mas é só. Convenhamos, muito pouco para um esporte emergente, que possui um enorme diferencial de contar não apenas com indústria própria, mas um estilo de vida próprio.
O surfe não conseguiu, por exemplo, se tornar uma modalidade que atraísse o interesse de grandes empresas de fora do meio. Uma ou outro, muito pouco.
A popularização do esporte em outros países praticamente não foi trabalhada, apesar do domínio da ferramenta da internet. As nações que contam com surfistas no Tour são praticamente as mesmas de dez anos atrás.
O julgamento foi outro ponto que avançou pouco - ou quase nada. Ainda é de difícil compreensão para quem não tem intimidade com o esporte. E ainda muito subjetivo, sem critérios bem definidos, mesmo para quem entende do surfe.
E algo que, certamente, minou o trabalho de Mr. Carr nos últimos meses foi a ainda tão contestada mudança no formato do WT, com o corte do número de integrantes da elite, de 45 para 32.
Nomes como Sunny Garcia, Fredrick Patacchia, Bobby Martinez, Jadson André, Jamie O'Brien se manifestaram contra a restrição no número de surfistas nos eventos de maior visibilidade, do número de candidatos ao título mundial.
A tese de reunir "somente os melhores do mundo" no WT é sempre muito discutível. Com 32 temos somente os melhores? Kieren Perrow, Kai Otton, Chris Davidson, Travis Logie, são melhores que Kolohe Andino, Thiago Camarão, Nathan Yeomans, Richard Christie? Para alguns, sim, para outros, não.
Por que 32 e não 45 melhores? Se for pra diminuir a janela dos eventos, esqueça, já vimos que não funcionou.
Parece claro que o surfe está no meio do caminho entre o modelo antigo e o modelo desejado, visivelmente baseado no tênis. Só que o tênis não se preocupa em eleger um campeão mundial ao final do ano. O que vale é ser número 1 do mundo, independentemente da época do ano.
Os torneios que normalmente contam com os tops do tênis ao longo do ano têm chave de 32 jogadores. Mas os eventos de maior visibilidade, tradição e premiação, os grand slans, têm chave de 128 jogadores.
Algo me diz que a saída de Mr. Carr diz muito mais respeito a esses aspectos.
Tomara que a ASP tenha se dado conta de que há muito potencial não explorado corretamente para que o surfe cresça como esporte de competição. Que faça com que os melhores do esporte recebam tanto quanto os melhores do tênis, do golfe, do futebol ou da Fórmula 1, por exemplo.
E vai ser praticamente impossível alcançar esse patamar sem que o surfe deixe de ser um esporte de poucos competidores, poucos países e poucos patrocinadores.
O momento é de pensar grande, coisa que parece que Mr. Carr não conseguiu enxergar.
Agora, a pergunta que todos fazem é...
... Quem será capaz de assumir essa missão?
Alguns colunistas citam a possibilidade de Kelly Slater se tornar o novo CEO da ASP.
O surfe perderia ou ganharia com a aposentadoria de Slater? Ganharia ou perderia com um dos principais defensores da diminuição do número de integrantes do WT?
Slater ou quem quer que assuma a ASP deve possuir, além dos pré-requisitos técnicos que a função exige, essa consciência de que para o surfe ser realmente grande, é preciso se abrir para o mundo.
Senão, o surfe vai continuar sendo coisa de australiano, norte-americano, havaiano, sul-africano e, quem sabe, brasileiro.
Um comentário:
Tou contigo em gênero, número e grau :)
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