Não tem a ver com nostalgia, nada disso. Repito: adoro ver os aéreos (nas suas mais diversas formas), rabetadas e carvings invertidos. Mas não dá para concordar que ver um surfista acelerar toda a onda para buscar uma única manobra, por mais alucinante que ela seja, possa ser considerado o ideal da onda surfada de forma perfeita.
Fico imaginando, por exemplo, o que os juízes fariam se Taj Burrow ou o próprio Slater, pegassem uma onda e mandassem um aéreo animal na primeira sessão da onda e a destruísse com uma série de manobras bem feitas. Seria justo ser pontuada com o mesmo 10,0 dado ao Careca por um (super) aéreo e nada mais?
O precedente foi aberto já nas primeiras fases, quando Josh Kerr voou bem alto em dois aéreos e recebeu notas acima de 9,0. Estava decretado: não adianta esbofetar as ondas com batidas, carvings, cutbacks ou mesmo rabetadas. Não perca tempo sequer em andar boa parte da onda por dentro, entubando. O que vale é voar.
E nessa levada, o campeonato foi se desenrolando. Na semifinal, Taj liderava após esculhambar algumas ondas com manobras "convencionais" como batidas desgarrando a rabeta, floaters despencando do lip, ou mesmo aquela manobra jurássica, como é mesmo o nome? tubos! Isso, tubos. Atrás no placar, Slater nem tentou disfarçar. Sabia o que os juízes queriam para que ele avançasse naquela expression session. Tentou uma, duas, até que na terceira vez, acelerou o quanto pôde, passou por diversas sessões manobráveis e mandou um aéreo rodando mosntruoso. Lindo, magnífico, que ganhou o 10,0 necessário para bater o freguês e avançar à final.
E eis que a decisão foi monopolizada pelas surpreendentes esquerdas que quebraram em Long Beach. O Careca esbofetou várias delas, mandou floaters insanos... Mas não conseguiu descolar um único aéreo. Já Owen Wright fez mais. Esfregou na cara dos juízes, do público e, porque não, do próprio Slater, alguns aéreos encaixados em meio a um amplo repertório de manobras. Convencionais, progressivas, que seja, mas, acima de tudo, radicais. Aéreo como uma manobra com alto poder letal, mas não como a única salvação.
Como torcedor incondicional dos brazucas, ao menos consegui tirar algo de bom desse perigoso precedente aberto pelo julgamento da ASP: Com a chegada de Gabriel Medina e Miguel Pupo ao Tour, nunca tivemos chances tão concretas de fazer um campeão mundial.
Pobre de quem cruzar com os dois rookies na próxima etapa do WT, em Trestles.
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